“A febre amarela silvestre é transmitida por mosquitos chamados de haemagogus e sabethes. A febre amarela urbana é transmitida pelo aedes aegypti, que é o mesmo que transmite a dengue, a zika e a chicungunya. Os últimos casos de febre amarela urbana no Brasil ocorreram em 1942, no Acre. Apesar das duas formas da doença, não há diferença de sinais e sintomas. Não há relatos de transmissão de febre amarela direta entre pessoas”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Sergio Cimerman.
O farmacêutico clínico e professor do ICTQ, Alexandre Massao Sugawara, explica que a febre amarela é de notificação compulsória e imediata, portanto todo caso suspeito identificado deve ser prontamente comunicado aos centros de vigilância epidemiológica das secretarias de saúde dos estados e municípios. “Caso o farmacêutico fique sabendo de algum macaco morto encontrado pela população, ele deve sugerir sua captura e encaminhamento (com urgência) para realização de exames. O serviço de captura é realizado gratuitamente por profissionais dos órgãos competentes definidos pelas secretarias de saúde locais”, alerta.
Como profissional farmacêutico em um estabelecimento de saúde – a farmácia, é fundamental que preste um importante serviço a sua comunidade, reconhecendo possíveis sintomas e sabendo exatamente como agir no sentido de encaminhar possíveis pacientes do balcão ou consultório farmacêutico, direto ao serviço médico hospitalar de emergência. Para isso, siga as recomendações (baixo) de Sugawara.
1 – Quais são os sintomas da doença
Os sintomas da febre amarela têm início súbito, com febre alta, calafrios, cansaço, dor de cabeça, dor muscular, náuseas e vômitos, que duram cerca de três dias. Após este período, o paciente experimenta um breve momento assintomático, que não deve ser confundido com uma melhora clínica. Ele deve ser mantido em observação. Em alguns casos, o quadro evolui para a sua forma mais grave, que inclui icterícia e hemorragia, seguidas de falência dos órgãos e, eventualmente, a morte.
2 – Como reconhecer, na farmácia, esses sintomas
Todo problema de saúde deve ser analisado pelo farmacêutico em consultório clínico (ou mesmo no balcão da farmácia, se não houver local privativo) para determinar, em anamnese, a queixa de saúde, seu histórico e o histórico médico pregresso, que inclui o farmacoterapêutico, o histórico social e o familiar.
Após a anamnese, o farmacêutico deve proceder a uma revisão dos sistemas buscando sinais e sintomas que possam elucidar o caso. Com os dados coletados, passa-se à decisão das medidas a serem tomadas. No caso da febre amarela, podem-se prescrever alguns cuidados paliativos no controle de sintomas, mas essencialmente deve-se encaminhar o paciente para um atendimento hospitalar, que possui o suporte e a equipe de saúde necessários ao atendimento desse tipo de demanda.
3 – O que investigar junto ao paciente
O farmacêutico clínico deve estar atento às queixas de saúde de seus pacientes, especialmente febre alta de início súbito, acompanhada de dores musculares, náuseas e vômitos. A avaliação da mucosa dos olhos com tonalidade amarela é suspeita de icterícia. Dores abdominais avaliadas por palpação da região é suspeita de hemorragia gástrica, que está associada aos casos mais graves de febre amarela.
4 – Em suspeita da doença, o que o farmacêutico deve fazer
Por se tratar de uma doença com rápido decurso, a recomendação é que o farmacêutico encaminhe o paciente imediatamente para o pronto atendimento hospitalar, para que sejam instaladas as medidas efetivas no combate à doença, que pode exigir a internação em unidade de terapia intensiva. O controle paliativo da febre e a reidratação podem ser realizados, pelo menos até que o paciente seja atendido em nível hospitalar que deve ser o mais imediato possível.
5 – Atenção às interações medicamentosas
Em pacientes com suspeita de febre amarela, não é recomendado o controle paliativo da febre com salicilatos, pois podem piorar o quadro hemorrágico que potencialmente ocorre em casos de febre amarela. Pacientes usuários de anticoagulantes e outros inibidores da agregação plaquetária podem potencializar o quadro hemorrágico comum nos casos mais graves da doença.
6 – Benefícios do atendimento farmacêutico
O serviço clínico farmacêutico, que é mais próximo da comunidade, permite a rápida detecção de estados alterados de saúde. Assim, o paciente se beneficia enormemente com o devido acompanhamento e encaminhamento para o efetivo tratamento da situação de alteração do estado de saúde observada.
7 – Como orientar sobre a prevenção da febre amarela
A única forma de evitar a febre amarela é por meio da vacinação. A vacina está disponível durante todo o ano nas unidades de cuidados de saúde de forma gratuita, e deve ser administrada em pacientes moradores das áreas de risco e em viajantes para essas áreas com, pelo menos, dez dias antes de seu deslocamento.
A vacina pode ser administrada em pessoas após seis meses de idade e é válida por dez anos. As exceções são para os pacientes imunossuprimidos, gestantes, mulheres em lactação e pessoas com doença no timo. Em áreas de riscos, o farmacêutico deve levantar o histórico de saúde de seus pacientes, avaliando o cumprimento dos esquemas de vacinação e, em casos de necessidade, deve encaminha-los às unidades básicas de saúde da região para atualização de suas carteiras de vacinação.
8 – Repelentes ou outros métodos preventivos
Quando não há a possibilidade de vacinação de pessoas que visitam ou moram nas áreas endêmicas, deve-se reforçar medidas de proteção, como o uso de repelentes e roupas impregnadas com permetrina, mesmo porque o mesmo mosquito que causa a febre amarela também é responsável pela dengue, zika e chicungunya. Os repelentes podem ser utilizados em crianças a partir de dois meses de idade, segundo recomendações internacionais, mas é fundamental ler corretamente a bula dos produtos antes de aplicá-los.
Outras recomendações gerais incluem o uso de camisas de mangas compridas e calças e a instalação de telas de proteção em portas, janelas, berços e carrinhos de bebês. Além disso, é essencial colaborar com as ações de combate vetorial nos municípios situados próximos das áreas de transmissão, visando reduzir os índices de infestação.
Fonte: ICQT