‘Farmacêutico deve se mostrar’, diz americana sobre profissão no Brasil

Especialista destaca importância de fiscalizar a prescrição de remédios.
Erros de medicação evitáveis custam até US$ 29 bilhões por ano nos EUA.

A figura do médico como autoridade final para indicar um remédio parece estar no passado para Diane Ginsburg, professora de farmácia clínica na Universidade do Texas, nos Estados Unidos. “É preciso ter diretrizes para o uso dos medicamentos”, explica Ginsburg. “Seria negligente prescrever medicamentos sem ter o controle exato dos efeitos.”

Ex-diretora da associação de farmacêuticos clínicos dos Estados Unidos (ASHP, na sigla em inglês), a norte-americana acredita que o farmacêutico é um profissional que precisa ser valorizado por saber mais sobre medicamentos do que médicos e enfermeiros. “Nós passamos mais tempo pesquisando sobre remédios, conhecemos melhor os efeitos.”

Somente nos Estados Unidos, os farmacêuticos clínicos chegam a 35 mil. No caso do Brasil, Ginsburg acredita que os farmacêuticos precisam conquistar o espaço para poder ter mais voz ativa nas condutas clínicas. “Antigamente, o farmacêutico queria sempre ser invisível. Hoje a necessidade é justamente o contrário, ele precisa ter maior influência para guiar as prescrições que são passadas na rotina de um hospital. O farmacêutico deve se mostrar mais por aqui.”

Para a especialista, o ensino no Brasil não é uma barreira para o crescimento da influência de farmacêutico no cotidiano dos hospitais já que as disciplinas ensinadas aqui são parecidas com as aulas ministradas nos Estados Unidos. “Os farmacêuticos daqui recebem a mesma instrução, a mesma educação que nós recebemos no meu país. Eles têm o mesmo ‘calibre’, são iguais a nós.”

Convencimento
Nos Estados Unidos, a situação começou a mudar em favor dos farmacêuticos a partir da iniciativa do Instituto de Medicina, uma organização não governamental que divulgou um relatório em 1999, mostrando que até 98 mil pacientes morriam por ano nos EUA por conta de erros de medicações. “Depois desse trabalho, eu diria que as coisas começaram a mudar por lá e a atuação do farmacêutico começou a ser mais respeitada”, afirma.

Para Ginsburg, o motivo é simples: “Quando não há colaboração entre os profissionais de saúde, os erros aparecem”. A farmacêutica defende que a informação é a melhor maneira para tentar convencer outros profissionais de saúde sobre a estratégia adequada na hora de prescrever determinada droga. “Não é tão difícil convencer os médicos. Existem evidências científicas para algumas das posturas que defendemos.”

Farmacêuticos clínicos precisam saber se um medicamento é o correto, se a dosagem é exagerada ou inferior ao necessário e até mesmo se combinações de drogas podem causar problemas ao paciente. É exatamente pela necessidade de estudos aprofundados que Ginsburg acredita na influência do profissional na equipe de saúde. “Até hoje nós ainda estamos aprendendo alguma coisa sobre o uso da penicilina, que é um antibiótico que existe há décadas.”

Exemplos
Na Índia, um estudo no Hospital Apollo mostrou que o uso de farmacêuticos clínicos durante 4 meses foi o suficiente para reduzir em até 70% os erros de medicação.

Segundo dados divulgados em 2006 pelo International Journal of Evidence-based Healthcare – publicação científica da área de saúde nos EUA -, erros de medicação que poderiam ser evitados custam até US$ 29 bilhões por ano nos Estados Unidos. Na Austrália, a cifra é de US$ 350 milhões.

Fonte: G1