O Comportamento Alimentar tem múltiplos fatores causais. A abordagem Nutrição comportamental tem como foco o trabalho para mudança de comportamento, e por isto começamos sempre da base de estudar comportamento e definir Comportamento alimentar.
Esta definição e foco, trazem a tona um de nossos pilares, ao defender que COMO e PORQUE se come é tão ou mais importante do que O QUE se come.
Comportamento alimentar & Nutrição – necessidade de foco ampliado
Para ir além do O QUE se come, é preciso incorporar e estudar outras ciências, além das “biológicas” clássicas da Nutrição. O foco da nutrição é muitas vezes apenas o consumo (de alimentos, calorias e nutrientes), e isto não é comportamento. Para entender o PORQUE do comer, as respostas nunca serão encontradas apenas na fisiologia. E na clínica, para avaliar o COMO e PORQUE, as perguntas devem ser outras, não o que você come tipicamente, mas onde, com quem, quando, de que forma (desde ambiente, até presença de TV, celular, na mesa, sofá, com talheres ou não…), e como você faz suas escolhas? No que acredita, pensa, o que sente sobre a comida.
Modelo de multicausação do comportamento
Os porque de qualquer comportamento são então multifacetados, e envolvem muitos fatores. Já escrevemos aqui anteriormente sobre determinantes de escolhas alimentares, e chamamos a atenção de que a Psicologia é a ciência que estuda a mente e o comportamento e por isto nutricionistas devem estudar mais Psicologia – com foco em comportamento alimentar!
Skinner, um dos “pais” da Psicologia, propôs o modelo de multicausação para o comportamento, nos níveis filogenéticos, ontogenéticos e culturais. Este modelo envolve os fatores inatos e também os aprendidos, compreendendo também os fatores sociais como parte de todos os aprendizados em um conjunto integrado e sinérgico – biopsicossociocultural.
Trazendo para a alimentação, a filogênese fala daquilo que é de nossa espécie, e comemos porque humanos comem, com uma regulação homeostática e hedônica que é de nosso sistema humano. Partindo para a ontogênese, vamos para os aprendizados: todos comemos, mas aprendemos coisas diferentes ao longo da vida – da família, da escola, dos amigos, da mídia… e selecionamos alguns comportamentos neste aprendizado que mantemos, e outros que deixamos de fazer. A cultura está envolvida em todo este processo, pois os aprendizados são diferentes dependendo do ambiente e se intercambiam, e hoje sabemos que o ambiente pode mudar inclusive a expressão de nossos genes (estresse ambiental e relação com epigenética).
Olhar para os diferentes determinantes de escolhas e múltiplos fatores de causação do comportamento amplia a nossa compreensão, e temos mais estudos que nos permitem hoje aprofundar esta visão – que era defendida por Aristóteles de alguma forma em suas 4 causas.
Esta visão ampliada torna mais provável compreender o porquê de certos comportamentos das pessoas em relação à comida, e o fato delas manterem alguns deles e outros não.
Na nutrição que foca apenas o consumo, olhamos só para as causas materiais e formais do comportamento (células, genes, sistemas, órgãos e metabolismo), e precisamos olhar para O COMPORTAMENTO, chamado por Aristóteles de causa eficiente – representada por “gatilhos”, ou eventos antecedentes para nosso comportamento alimentar.