Na oncologia, o farmacêutico é o instrumento mais importante para a qualidade da terapia farmacológica. Suas atribuições vão além da simples dispensação da prescrição médica, ou ainda da manipulação dos medicamentos antineoplásicos em si. Sua atuação é importante em várias etapas da terapia antineoplásica: seleção e padronização de medicamentos e materiais, auditorias internas, informação sobre medicamentos, manipulação dos medicamentos antineoplásicos, farmacovigilância, educação continuada e participação nas comissões institucionais.
1 – Quais s?o as principais atribuições do farmacêutico que atua em oncologia?
Na oncologia, o farmacêutico é o instrumento mais importante para a qualidade da terapia farmacológica. Suas atribuições vão além da simples dispensação da prescrição médica, ou ainda da manipulação dos medicamentos antineoplásicos em si. Sua atuação é importante em várias etapas da terapia antineoplásica: seleção e padronização de medicamentos e materiais, auditorias internas, informação sobre medicamentos, manipulação dos medicamentos antineoplásicos, farmacovigilância, educação continuada e participação nas comissões institucionais.
2 – Quais são os pontos críticos (que requerem maior atenção) na manipulação de quimioterápico?
A manipulação segura dos medicamentos antineoplásicos não se resume somente ao uso da técnica adequada e a utilização de uma cabine de segurança biológica, mas também a correta utilização das informações inerentes aos medicamentos utilizados e sua adequação as condições terapêuticas. Além do ato de preparo dos medicamentos, deve-se considerar toda a cadeia de processos, desde o armazenamento, recebimento, transporte, manipulação propriamente dita, a dispensação, a administração, geração e descarte de resíduos de produtos e medidas em caso de derramamento e extravasamento.
Todo o processo é bastante complexo, portanto, aconselho que todas as preparações sejam realizadas exclusivamente por profissional farmacêutico habilitado para tal, que a técnica utilizada seja totalmente asséptica, que as recomendações do fabricante sejam rigorosamente seguidas, que os EPI’s sejam utilizados corretamente, que a atenção esteja voltada integralmente para o preparo e que a rotulagem do produto acabado seja realizada com atenção para que trocas sejam evitadas.
3 – Sabe-se que os quimioterápicos tem preço bastante elevado, como lida-se com as avarias durante o processo de manipulação?
Levando em consideração o alto custo de alguns antineoplásicos, a estabilidade físico-química deles e a dose individualizada, ou seja, cada paciente recebe a dose de acordo com sua superfície corpórea, é importante considerar a avaliação das perdas diárias dos medicamentos abertos e não utilizados em sua totalidade, focando na redução de custos e otimização dos processos que envolvem a manipulação de quimioterápicos, prevendo, assim, melhor aproveitamento deles com a agenda terapêutica (agendamento de pacientes cujos protocolos são semelhantes, iguais ou que utilizem o mesmo medicamento no mesmo dia).
4- Qual o passo a passo para o profissional farmacêutico que deseja especializar-se em oncologia?
No Brasil, os programas de graduação em farmácia não contemplam, em seus componentes curriculares, teoria e prática em Oncologia apropriadas para o exercício da função. Isso torna necessário que o profissional farmacêutico oncológico complemente sua formação e adquira experiência através de cursos complementares, cursos de pós-graduação e programas de residência.
5 – Quais legislações estão relacionadas com a manipulação de quimioterápicos?
RDC nº 50, de fevereiro de 2002 – dispõe regulamento técnico para projetos físicos em estabelecimentos assistenciais de saúde;
RDC nº 67, de outubro de 2007 – dispõe sobre Boas prática de manipulação de preparações magistrais e oficinais para uso humano e seus anexos (manipulação de citostáticos, manipulação de medicamentos estéreis, manipulação de doses unitárias e unitarização de doses em serviços de saúde)
Considerar também as publicações da RDC nº 87 de novembro de 2008 e RDC nº 21 de maio de 2009 as quais fizeram alteração parcial na RDC nº 67;
RDC nº 220, de 21 de setembro de 2004 – aprova o Regulamento Técnico de Funcionamento dos Serviços de Terapia Antineoplásica;
Resolução nº 288, de março de 1996 – manipulação de drogas antineoplásicas pelo farmacêutico;
Resolução nº 565, de dezembro de 2012 – Dá nova redação aos artigos 1º, 2º e 3º da Resolução/CFF nº 288.
6- Quais livros e sites você indica como essenciais na formação em manipulação de quimioterápicos?
Terapêutica Oncológica para Enfermeiros e Farmacêuticos (Edva Moreno Aguilar Bonassa e Maria Inês Rodrigues Gato.
Farmacêuticos em Oncologia: Uma nova realidade (José Ricardo Chamhum de Almeida).
7- Comente brevemente como funciona a gratuidade de medicamentos oncológicos para a população:
A Constituição confere ao Estado o dever de garantir, a todos, o direito à saúde de forma integral e igualitária, incluindo a assistência farmacêutica. Via de regra, o paciente somente terá acesso aos medicamentos previamente incorporados ao SUS. Porém, os gestores do SUS devem analisar caso a caso, e, constatando que os medicamentos incorporados não se mostram clinicamente adequados a determinado paciente, oferecer a ele outros meios existentes no mercado, independentemente da sua prévia incorporação ao SUS, até porque nem sempre o processo de incorporação acompanha a velocidade do avanço da medicina. É importante que o produto tenha sido registrado na ANVISA.
8- Em linhas gerais, que fazer em casos de acidentes durante o preparo dos medicamentos quimioterápicos?
Em acidentes que contaminem EPIs, estes devem ser removidos imediatamente e descartados. Quando da contaminação de pele e mucosas, deve-se proceder a lavagem, com água e sabão neutro e, no caso de contaminação dos olhos, utilizar lava-olhos (ou soro fisiológico 0,9%) por 15 minutos.
O derramamento deverá ser contido e limpo com gaze absorvente. No caso de derramamento de pós, deverá ser limpo com gaze úmida. A área deverá ser lavada com água e sabão neutro. Secar e manter a área ventilada. Fragmentos de vidro deverão ser recolhidos com pás e colocados em recipiente para pérfurocortantes. Tanto o recipiente para pérfurocortantes, como as gases utilizadas deverão ser colocadas em sacos plásticos apropriados para estes resíduos. Na contaminação do filtro HEPA, a capela deverá ser desativada e vedade até que técnicos especializados possam trocá-los e realizar nova validação da cabine.
9- Como funciona a biossegurança do manipulador?
A exposição dos profissionais envolvidos com terapia antineoplásica pode ser controlada com a correta utilização dos equipamentos e EPIs disponíveis. Periodicamente os profissionais deverão ser submetidos a avaliações médicas, sendo o resultado das mesmas registradas na ficha individual do funcionário. Dicas para minimizar os riscos: Ligar a cabine com 30 minutos de antecedência e deixa-la ligada 30 minutos após o término do serviço, A cabine deve ser desinfectada com álcool 70% antes e depois do término da manipulação, Manutenção preventiva da cabine deve ser periódica para troca dos filtros, Manutenção corretiva deve ser realizada sempre que a cabine for deslocada de seu lugar, EPI’s devem ser obrigatoriamente utilizados corretamente, Luvas devem ser trocadas a cada hora ou sempre que necessário e o kit derramamento deve estar sempre por perto.
10 – Na sua opinião, quais características você considera essenciais no perfil do manipulador?
Compreender os cálculos pertinentes ao processo, ser atento ao trabalho, ter bom poder de concentração, boa coordenação motora, saber dialogar e compreender as necessidades do paciente contidas na prescrição, estar atento às normas de higiene e legislação, compreender os cuidados de segurança, gostar de estudar e se aperfeiçoar, já que a área demanda constante atualização.
11 – Quais cuidados com o meio ambiente são tomados em relação ao descarte de quimioterápicos?
Antes do descarte em recipientes especiais, os resíduos altamente contaminados com medicamentos citostáticos devem ser selados em sacos plásticos, ou podem, ainda, ser inativados por reações químicas. As soluções restantes dos frascos não podem simplesmente ser descarregadas na rede de esgotos.
12 – Qual o cenário da segurança do paciente nessa área?
Para estabelecer a segurança do paciente oncológico é necessário gerenciar o uso de medicamentos. Seguem algumas recomendações para realizar atos seguros: Dupla checagem por dois profissionais, prescrições informatizadas, refazer cálculos quando houver dúvidas, identificar os processos de alto risco, segregar os medicamentos potencialmente perigosos, analisar e validar a prescrição médica (RDC 220), aprimorar o processo de preparo do medicamento, educar pacientes e cuidadores, estabelecer protocolos que garantam a segurança na terapia medicamentosa e ter farmacêutico clínico especialista em oncologia acompanhando o paciente durante todo o seu período de internação é essencial.
13 – Como ocorre a Farmácia Clínica na Oncologia?
O farmacêutico clínico em oncologia tem enfoque no seguimento farmacoterapêutico dos pacientes internados. Dentro da equipe multidisciplinar somos mais um profissional para evitar que o paciente sofra danos por erro de medicação. Dentre os serviços clínicos farmacêuticos podemos citar: anamnese farmacêutica, conciliação medicamentosa onde se é verificada conduta médica para os medicamentos utilizados em domicílio pelo paciente, validação de medicamentos não padronizados na instituição que são utilizados pelo paciente em domicílio, análise da prescrição médica, intervenção farmacêutica, participação em comissões e reuniões multidisciplinares, evolução farmacêutica dos pacientes, orientação farmacêutica no momento da alta hospitalar, entre outros…
14 – Como ocorre a interaç?o com a equipe multidisciplinar?
A multidisciplinaridade, hoje, em oncologia é fator condicionante da qualidade da assistência, pois como fruto do trabalho harmonioso e integrado obtém-se uma melhor qualidade de vida dos pacientes oncológicos. A composição da equipe vai de acordo com a necessidade e realidade de cada instituição hospitalar.
FONTE: https://www.diariofarma.com.br/atuacao-do-farmaceutico-na-oncologia/