O TRABALHO DO FISIOTERAPEUTA NA ESCLEROSE MÚLTIPLA

O TRABALHO DO FISIOTERAPEUTA NA ESCLEROSE MÚLTIPLA

A Esclerose Múltipla é uma doença que atinge milhares de pessoas todos os anos no Brasil. Ela nada mais é que uma patologia crônica reincidente no Sistema Nervoso Central e que afeta a transmissão de informações no axônio. Isso, por sua vez, acaba lesando a condutividade nervosa do cérebro.

O papel do Fisioterapeuta é de extrema importância na recuperação de pessoas afetadas por essa patologia para que elas voltem a ter plena atividade motora como antes. Quer saber mais sobre o assunto? Então continue lendo!

O que é Esclerose Múltipla?

A esclerose múltipla é uma patologia – não traumática -, crônica, inflamatória e progressiva do Sistema Nervoso Central. Ela insere-se no grupo de doenças autoimunes, causando a incapacidade neurológica de diversos adultos.

Na EM há a desmielinização da matéria branca que envolve e protege os hemisférios cerebrais, tronco cerebral, cerebelo, medula espinhal e nervos ópticos. Isso leva a um déficit da condutividade nervosa do cérebro, causando a limitação da capacidade dos neurônios de levarem e receberem informações.

A inflamação subjacente à danificação das bainhas de mielina que protegem os axónios provoca, também, limitações ao nível da condução dos impulsos nervosos no SNC. Existem dois tipos de consequências que as inflamações podem gerar no sistema nervoso. São elas:

  1. A inflamação pode ser eliminada, restaurando parcialmente as bainhas de mielina causando uma recuperação total ou parcial das funções neurológicas do paciente;
  2. A inflamação pode ser definitiva e agressiva, causando a destruição dos axônios e a substituição deles por tecido cicatrizado sem qualquer funcionalidade neurológica.

Quais os sintomas da esclerose múltipla?

As pessoas afetadas com a esclerose múltipla tendem a apresentar sintomas diferentes uma das outras. Portanto, a desmielinização pode atingir qualquer axônio, afetando as funções controladas pelo sistema nervoso central e, por isso, há inúmeros sintomas da doença. Dentre eles podemos citar:

  • Entorpecimento
  • Fadiga
  • Problemas de visão
  • Ataxia
  • Espasticidade
  • Problemas no controle da micção e defecação
  • Sensibilidade ao calor
  • Disfunção sexual
  • Fraqueza muscular
  • Défices cognitivos
  • Disartria
  • Perda de sentidos

Tipos de Esclerose Múltipla

O grau de incapacidade observado nos indivíduos portadores de EM pode ser dividido quatro tipos:

  1. Recidivante Remitente: também conhecida por Surto Remissão, é o tipo mais comum de esclerose múltipla, caracterizando-se por uma recuperação total e remissão dos sintomas. No período intervalar entre os surtos, não se observa progressão da doença. Este tipo de esclerose múltipla pode evoluir para Secundária Progressiva.
  2. Secundária Progressiva: a recuperação dos sintomas após um surto não é total, observando-se um agravamento continuado entre os surtos e, consequentemente, um aumento do nível de incapacidade.
  3. Primária Progressiva: os sintomas apresentados pelos indivíduos tendem a agravar de forma constante desde o diagnóstico, observando uma evolução ou estabilização dos sintomas. Pode-se observar uma estagnação da incapacidade do indivíduo ou um agravamento progressivo.
  4. Primária Recidivante: este é um tipo raro de esclerose múltipla, progredindo de forma constante desde o início, com surtos claramente identificáveis.


O papel do fisioterapia na reabilitação da EM

O exercício físico é usado sempre uma terapia paliativa, que é incapaz de modificar a evolução da doença. Um paciente com sequelas de redução motora, por exemplo, é indicado para fazer fisioterapia para aumentar seus movimentos, o que não quer dizer que a fisioterapia afeta diretamente a doença.

O objetivo do tratamento fisioterápico é reformular o ato motor. Ao invés de tentar recuperar os músculos afetados, damos maior ênfase aos músculos que ainda estão mais conservados. Dessa maneira fazemos com que o movimento se organize na sua finalidade, mas através de outra remodelação na contração motora.

Os exercícios utilizados no tratamento são individualizados para aumentar a mobilidade, melhorar o desempenho nas atividades diárias, reduzir a fadiga, além de prevenir complicações decorrentes da doença. Em geral, as intervenções feitas pela fisioterapia devem ajudar o paciente a alcançar independência funcional com segurança.

Como utilizar a fisioterapia na Esclerose Múltipla?

A abordagem da fisioterapia vai variar durante o curso da doença. Não existem protocolos, mas sim a necessidade de oferecer alternativas com foco em queixas individuais. O fisioterapeuta consegue modificar esses sintomas através de estratégias que minimizam o impacto funcional.

Por exemplo, pacientes com fraqueza muscular podem se beneficiar de programas de fortalecimento muscular de musculaturas preservadas, assim como pacientes com espasticidade se beneficiam de programas de alongamentos musculares.

Treinos específicos de equilíbrio podem reduzir significativamente o número de quedas e aumentar a segurança do paciente para exercer suas atividades diárias com maior independência. É importante lembrar que para a maioria dos pacientes a fadiga pode ser exacerbada pelo calor, sendo assim, as atividades em ambientes com ar condicionado são mais recomendadas.

A fisioterapia também é muito importante para a reeducação esfincteriana. O paciente com dificuldade de micção irá reeducar essa função através de medicamentos e dos exercícios fisioterápicos.

Avaliação no tratamento fisioterápico

Para que o tratamento fornecido pelo fisioterapeuta surta efeito, uma boa avaliação é necessária. Através da avaliação fisioterapêutica neurológica o profissional consegue identificar as sequelas da Esclerose Múltipla. Antes de começar uma mobilização, o fisioterapeuta deve observar e analisar a coordenação motora.

Alguns fatores para serem observados:

  • Movimentos involuntários;
  • Reflexos;
  • Tônus muscular;
  • Distúrbios de marcha;
  • Contraturas;
  • Equilíbrio estático e dinâmico;
  • Fadiga;
  • Alterações respiratórias;
  • Força;
  • Encurtamentos musculares;
  • Algias;
  • Compensações.

Em alguns casos o paciente já está em uma fase da doença que o impossibilita de se transferir sozinho da cadeira. Por isso, nossa ajuda será necessária para que ele consiga se locomover. Existem ferramentas que auxiliam o fisioterapeuta a mover o paciente como cadeiras que saem os braços e os apoios de pés que nos facilitam muito a transferência.

Pacientes com dificuldades de locomoção

Na hora da transferência sempre segure o paciente por debaixo dos braços cruzando seus dedos na região de escápulas e seus joelhos deverão estar encostados nos dele. Segurando o paciente com firmeza, o levante empurrando seus joelhos nos dele até ele realizar uma extensão total de MMII de travamento daí e só rodar e colocar sentado no leito ou sofá.

Há outras formas de transferência, como os deslizamentos, pranchas, bola e por aí vai. Porém temos que escolher a mais segura tanto para o paciente quanto para nós.

Os movimentos funcionais realizados nas atividades diárias, como os treinos de independência durante transferências (para a cadeira de rodas, por exemplo), treinos de marcha e equilíbrio ou em qualquer outra situação cotidiana que o paciente encontre alguma barreira são essenciais.

Tratamentos fisioterapêuticos

Existem diversos cuidados a serem tomados devido às limitações do paciente. O número de repetições e peso, por exemplo, não pode ser exagerado já que a doença tem como sintomas principais a fadiga e diminuição de força muscular.

Não podemos deixar que esses pacientes cheguem ao ponto de fadiga nos exercícios, por isso a importância dos alongamentos passivos ou ativo assistidos durante um fortalecimento e outro. Faço no máximo seis a dez repetições ativas de cada exercício dependendo do grau de acometimento das sequelas instaladas.

Dar ênfase as modalidades de segmentos corporais que não foram acometidos é muito importante para melhora das A.V.Ds. Caso o paciente ainda deambule ou possua alguma mobilidade ativa de MMII, é muito interessante o trabalho de tomada de peso, equilíbrio dinâmico e assoalho pélvico.

Como trabalhar a fisioterapia na EM?

Assim como algias em regiões de cervical também devem ser trabalhadas. Qualquer alteração álgica compromete a evolução do atendimento. Algumas ações devem receber prioridade durante o tratamento, como:

  • Posição ortostática independente da fase da doença;
  • Manutenção do rolar no leito;
  • Toda parte circulatória;
  • Manutenção das necessidades fisiológicas;
  • Toda parte de prevenção de escaras de decúbito e mudança de decúbito;
  • Orientação aos familiares.

Exercícios de MMSS, exercícios de ponte com ou sem acessórios, alongamentos ativos passivos ou ativos assistidos de forma global, equilíbrio de tronco, mmii principalmente extremidades são alguns dos exercícios básicos que podem ser realizados.

Pontos relevantes para uma orientação, segura e eficaze, de exercícios para pessoas com EM:

  1. Estabelecer contato com o médico do aluno a fim de obter informações relevantes para a elaboração do programa de exercícios físicos.
  2. Cuidados para controle da fadiga.
  3. Elaborar o programa contemplando a alternância de períodos de esforço e descanso.
  4. Preferir o horário do dia em que o aluno menos sinta os efeitos da fadiga.
  5. Cuidados para evitar o aumento da temperatura corporal.

Conclusão

A reabilitação de pacientes com Esclerose Múltipla é de suma importância para que eles possam voltar as suas atividades cotidianas sem maiores problemas. É necessário sempre ser cauteloso quanto as limitações do seu paciente, para que o quadro clínico do mesmo não piore.

Algumas estratégias têm sido sugeridas, incluindo o uso de salas climatizadas ou bem ventiladas, a adoção de práticas no período da manhã, hidratação adequada e imersão do corpo em água fria até a cintura, exceto em situação onde possa ocorrer exacerbação da espasticidade.

FONTE:https://blogfisioterapia.com.br/fisioterapia-na-esclerose-multipla/