Doença classificada como a terceira causa de cegueira no mundo, segundo a OMS, é tema de debates em congresso em BH. Infecções, problemas autoimunes e câncer estão entre as causas.
Oftalmologistas costumam aconselhar pacientes a só coçarem os olhos com o cotovelo. Entendeu? Pois é, essa artimanha não é possível. Isso porque todo cuidado com a visão é bem-vinda e passar as mãos nos olhos é algo que deve ser sempre evitado.
Além desse tipo de prevenção, também é recomendada a visita anual ao oftalmologista. A partir de que idade? A oftalmologista Fernanda Porto lembra a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que indica a necessidade das consultas a partir dos 14 anos. A médica acrescenta que não se trata de comportamento hipocondríaco e avisa: “É raro um paciente que tenha nada e não precise voltar”.
A médica Fernanda Porto também alerta para o uso indiscriminado do celular, em especial para as crianças. A miopia (doença de quem não enxerga bem de longe) pode ser um dos reflexos desse hábito que infesta sociedade dita moderna.
Todos esses alertas feitos pela oftalmologista vêm acompanhados de outro ainda mais grave, tendo em vista que a médica é também presidente da Sociedade Brasileira de Uveíte, coordenadora do 20º Congresso da Sociedade Brasileira de Uveíte, que foi realizado em Belo Horizonte de quinta-feira a sábado passado, reunindo 450 especialista, entre oftalmologistas, reumatologistas e pneumologistas. Dados da OMS apontam a uveíte como terceira causa de cegueira, atrás do glaucoma e da retinopatia diabética.
Uveíte é o nome de um grupo de doenças que causa inflamação na parte interior do olho, podendo surgir em qualquer idade. Suas causas podem ter origem em doenças infecciosas (entre elas toxoplasmose, tuberculose, sífilis, HIV/AIDS, herpes, entre outras), autoimunes (como artrite reumatoide, Lúpus e espondilite), ou doenças oncológicas. Entre os sinais da uveíte estão olho vermelho, visão de “moscas voadoras”, dor, fotofobia e/ou baixa de visão.
Deu para perceber pelos participantes do congresso (oftalmologistas, reumatologistas e pneumologistas) que tratar a uveíte depende de uma equipe multidisciplinar. Os primeiros relatos médicos da doença datam do século 19, conforme explicou o reumatologista Bóris Afonso Cruz. E, segundo ele, as causas mais comuns estão relacionadas a doenças reumatológicas.
Investigação
A uveíte relacionada a uma doença autoimune, ou seja, ligada ao sistema imunológico, ainda estão envoltas em mistério. Isso porque a ciência ainda não sabe porque os agentes de defesa do corpo começam a atacar organismo ou parte dele.
O reumatologista Bóris Cruz explica que o sistema imunológico funciona como “uma espécie de polícia do organismo”, combatendo vírus, bactérias e todo tipo de agente agressor do corpo. Mas a ciência ainda não entendeu porque “os policias viram bandidos”.
Conforme o médico, uma pista já foi identificada. “Já sabemos que existe uma predisposição genética para algumas doenças. Algumas pessoas têm essa predisposição e, apesar disso, não vão ficar doentes”, explicou o reumatologista. Por isso, não há também como fazer tratamento preventivo para evitar essa desorganização do sistema imunológico. Ao aparecer algum sintoma, é necessária a busca por profissionais para uma investigação que chegue ao diagnóstico mais preciso.
A uveíte também pode levar à hipertensão ocular, causa de cegueira, a exemplo do que ocorre com o glaucoma. Fernanda Porto destaca que, em alguns casos, ocorre de um paciente ficar cego em questão de dias, se não buscar tratamento adequado. Ela citou o exemplo da herpes, que pode atingir a retina e nervo óptico.
Como tratar
Tratamento da uveíte é feito a base de corticoide, por meio de colírio e comprimidos. No congresso, realizado em Belo Horizonte, os médicos discutiram ainda o uso do primeiro medicamento biológico para combater a doença. Trata-se de um anticorpo monoclonal totalmente humano, aprovado recentemente no Brasil para o tratamento da uveíte não infecciosa, que é uma das formas mais graves da doença, com maior risco para piora da visão.
Glaucoma, zika e febre amarela
Durante o Congresso, foram apresentados também estudos sobre novos avanços terapêuticos para outras formas da doença, como uveíte hipertensiva, um tipo de glaucoma que se manifesta por episódios de hipertensão ocular aguda associada à inflamação ocular, que também pode levar à perda da visão. Outro tema de destaque foi relacionado aos quadros de uveíte associados a infecções como zika, dengue, chikungunya e febre amarela.
Fonte: Uai.com