Estudo feito no Piauí mostra que o produto natural tem eficácia contra doenças infecciosas, como a candidíase, também podendo ser eficaz contra o câncer de mama.
A mirindiba, Terminalia fagifolia, é uma velha conhecida de nossos pais e avós, principalmente aqueles com um pé na zona rural. Popular pelos efeitos medicinais, a planta é capaz de curar a candidíase. A infecção fúngica que afeta as mucosas, sobretudo as partes íntimas das mulheres, pode ser recorrente.
A mirindiba é usada pela população para o tratamento de algumas doenças, como tumores, doenças no trato gastrointestinal e aftas. Então, a partir desse conhecimento popular, chamado de etnobotânico, surgiu a necessidade de comprovação do uso empírico da planta. Além disso, algumas pesquisas demonstraram que essa planta é rica em compostos que têm potencial para se tornar um fármaco.
É aí que entra o trabalho de pesquisa de Alyne Rodrigues, biomédica da Universidade Federal do Piauí (UFPI), com doutorado em Biotecnologia pelo RENORBIO. Ela realiza pesquisas com produtos naturais para a descoberta de alternativas terapêuticas para o tratamento de doenças infecciosas, como no caso, a candidíase.
A vontade de estudar a planta veio do mestrado em Farmacologia, realizado no Núcleo de Pesquisas em Plantas Medicinais (NPPM/UFPI). “Essa pesquisa começou a ser desenvolvida na época do mestrado ainda, desde 2013 que venho trabalhando com as cascas do caule da planta. Na altura, conseguimos demonstrar o potencial antibacteriano da planta. Foi um processo longo, até conseguirmos comprovar algumas potencialidades da espécie. Durante esse tempo, fiz muitos procedimentos laboratoriais e li muitos artigos científicos relacionados ao meu estudo. Apesar de longo, foi prazeroso, com ganho de aprendizado e trabalho em equipe”, conta Alyne Rodrigues.
Como os dados ainda não foram publicados, apenas submetidos a duas revistas internacionais, Alyne não pode revelar o princípio ativo da substância. “Após a publicação, posso falar mais abertamente sobre isso. No entanto, ressalto que os extratos e as frações ativas, que a população geralmente usa como infusões ou decocções, chás, da planta são ativos contra Candida. O que ressalta a importância da biodiversidade do Nordeste na busca de soluções para a saúde humana”, analisa a biomédica.
Candidíase é mais comum na vagina
A candidíase é uma infecção causada por fungos do gênero Candida, que podem infectar a vagina, boca, pele, unhas, podendo atingir até a corrente sanguínea em pacientes hospitalizados. “A candidíase vaginal tem uma alta prevalência e causa muito desconforto à paciente acometida, provocando irritação, ardência, coceira e um corrimento esbranquiçado com aspecto de queijo fresco”, caracteriza Alyne Rodrigues.
O formato da mirindiba em sabonete pode ser um grande fator industrial para a aplicação do produto. “No primeiro momento, pensamos em um sabonete contendo derivados da mirindiba para o tratamento e controle da candidíase vaginal. Mas, após alguns testes, outras formas farmacêuticas podem ser desenvolvidas”, acrescenta. (L.A.)
Mirindiba pode ser eficaz contra o câncer de mama
A mirindiba também apresenta propriedades contra o câncer de mama. “Consegui demonstrar atividade contra bactérias de pele, tanto sensíveis como resistentes aos antibióticos utilizados na prática clínica, bem como atividade contra células de câncer de mama. Recentemente, comprovei um excelente potencial antifúngico, principalmente contra leveduras (Candida sp.) e um potencial anti-inflamatório dos derivados dessa planta”, explica a biomédica.
Pesquisadores portugueses encontraram na pesquisa da biomédica uma excelente oportunidade de estudo. “Nesta fase da pesquisa, ainda podemos inserir uma internacionalização do projeto, envolvendo nesta etapa experimentos em células vivas da neuróglia humana em parceria com a Bioprospectum e o Instituto de Investigação e Inovação da Universidade do Porto (i3S) em um grupo especialista em neurociências”, aponta.
“O meu orientador do Doutorado, Dr. José Roberto Leite, atualmente é professor da faculdade de Medicina da UnB, mas foi professor da UFPI até 2016, neste período no Piauí estabeleceu uma forte parceria com a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, na pessoa do Dr. Peter Eaton, que inclusive foi meu coorientador em meu projeto de tese na Rede Nordeste de Biotecnologia. Em paralelo, o professor possui colaboração com o grupo do i3S e através da investigadora Dra. Alexandra Plácido (CEO da Bioprospectum e investigadora do i3S) e o chefe do grupo, Dr. João Relvas, iniciamos a parceria na área inflamatória. Hoje, estes grupos possuem uma forte parceria que traz um ganho para todos os alunos brasileiros envolvidos, ressaltando a importância da mobilidade acadêmica”, finaliza Alyne Rodrigues.
Disponível em: https://www.meionorte.com/noticias/mirindiba-contra-candidiase-359022